17.4.10

Line


Os dias costumavam se arrastar algum tempo atrás. Eu me lembro bem... o tempo praticamente implorava-me: "passe por mim, para que eu possa passar..." e eu não podia fazer nada porque quem determina minha vivência a não ser ela mesma? Agora estou aqui, sei que tenho coisas a fazer, a resolver, a tentar. Só que eles passam entre meus dedos e quebram-se no chão. Elas têm esse costume de ficar pendentes... O tempo que antes estava ajoelhado diante de meus pés agora eu nem sequer vejo mais, e se vejo é com o canto do olho, muito depressa, a quilômetros de distância. As coisas estão passando por mim. Elas estão vindo ao meu encontro e meus braços não são ágeis o suficiente para pegar cada uma delas e colocar nos bolsos.
Algumas eu agarro.
E guardo.
Mas quanto as outras, que para mim têm aquela aparência tão interessante... Que olham para mim e dizem: " Faça-me. Use-me. Aprenda-me." Elas simplesmente passam. E sei que não adianta olhar para trás, não adianta chamá-las pelo nome. Não adianta oferecer um doce à elas. Elas não voltarão... Porque minha vivência não é uma circunferência. Não estou em um ciclo. Estou em uma linha reta ou torta, que tem começo, meio e fim. Aquilo que passa pelo ponto onde estou, simplesmente passa. E quando chega no fim, se destroi. Estilhaça-se. Em mil pedaços... E meus bolsos continuam cheios.